Para Adélia Prado,
com beijo e com queijo
Adélia parece que escreve
sentada à mesa da cozinha,
em cadeira rústica,
enquanto recebe o sol da tarde.
Adélia parece que escreve.
Mas na verdade ela reza.
Para que as coisas continuem na sua condição de coisas,
para que o humano não deixe de ser humano.
Adélia parece que escreve,
mas na verdade ela reza:
ladainhas plenas de cor e brilho
que só os passarinhos entendem.
Ela reza para que sua força de mulher produza a obra,
para que não se engaiolem os sonhos.
Para que não se desengraxem os sapatos,
para que as palavras não morram.
[Rosy Feros, 2004]